Fonte: http://www.blogdapacificacao.com.br/borel/carnaval-vai-agitar-as-comunidades-pacificadas/
Foto: Lucíola Villela
O Bloco Carnavalesco Unidos da Villa Rica embalou minha infância e deu novo alento ás noites vazias de sábados e domingos! É estranho que na época (1970?) havia no Morro dos Cabritos razoálvel quantidade de "Portugas" e uma percentagem bem maior de Nordestinos e mesmo assim suas presenças na Quadra do Villa era quase zero, durante os vários anos que acompanhei o Villa!
Possivelmente o Bloco começou a ficar famoso e conhecido em Copacabana por causa do Banho de Mar a Fantasia, evento muito esperado pelos admiradores do Bloco pois recuperava o carnaval antigo em que fantasia não contava, oque contava era a empolgação! Desciam uma quantidade ínfima de participantes atras da bateria, mas na calçada ia quase o morro inteiro inclusive eu! Será que essa admiração enrustida era porque o Samba era coisa de Negro ou coisa de quem não tem oque fazer? O fato é que o Bloco Carnavalesco Unidos da Villa Rica foi extremamente agregador no Morro dos Cabritos!!!
Aqui foi a 1ª quadra de samba da Unidos da Villa Rica vendo-se ao fundo o bar! Era também o campo oficial de peladas da Rua Euclides da Rocha! Como era embaixo de minha janelas vi craques excepcionais passarem por ela, como: Silvinho da capela, Paulinho do 17 e Joel do Hospital, este um quase Pelé!
Quem viu não me desmente!!
Aqui era a 2ª Quadra de samba da Unidos da Villa Rica que também era uma creche, mas deixando espaço para receber os percussionistas da Escola de Samba e os admiradores!
Possívelmente aqui era a 2ª Quadra de samba da Villa Rica que depois virou esta creche!
foto cortesia M.G
Aqui é a 3ª Quadra da Unidos da Villa Rica!
foto cortesia M.Ghttp://www.blogdapacificacao.com.br/tabajaras-cabritos/celeiro-olimpico-no-alto-da-ladeira-dos-tabajaras/ Esporte patrocinado na Quadra da Unidos da Villa Rica!
Foto Moscow
È uma pena que a nossa Arte Afro-Brasileira a Capoeira não faça parte deste Belo Celeiro!
Ela começou no nosso Morro dos Cabritos em 1975 através do Mestre Lua Rasta na Creche e Quadra de samba do Villa Rica na Rua Euclides da Rocha e deu pelo menos um fruto:
Mestre Guará, hoje trabalhando em prol da Capoeira na França!
Se pelo menos 1 destes muitos que participam deste belo projeto chegar tão longe, já podem se sentir realizados, pois todo o dia em que eu penso que aquele menino quase sem futuro foi/chegou tão longe, eu digo:
Caramba, tudo é possível!
http://www.blogdapacificacao.com.br/tabajaras-cabritos/batidao-do-funk-agita-a-ladeira-dos-tabajaras/
Baile Funk na Quadra da Unidos da Villa Rica!
Da Tita, Ney, Marcha Lenta e abaixados Rubinho e Eu na Mini Quadra!
O Fim do Baile Soul e o começo da Patifaria!
Na Ladeira dos Tabajaras e Rua Euclides da Rocha nessa época (1975?) só conheci como D'J, Nei e Marcha Lenta, pessoas espetaculares e dedicadas a levar um pouco de lazer, a quem não tinha dinheiro nem do ônibus, nem da entrada no Clube para os Bailes Soul, que depois virou Funk.
Como nós, eu e Rubinho já tinhamos uma iniciação na Capoeira - Rubinho nasceu pra coisa - dava-mos uma iniciada na rapaziada, justamento na mini-quadra aonde nas noites de sábado rolava o Baile. Sexta-feira a expectativa, a conversa rolava em torno do que aconteceria amanhã.
Nei e Marcha nos mostravam os ultimos LPs adquiridos, colocavam en avant-premiére as ultimas pedras sonoras. Eu me sentia o máximo......
http://morrodoscabritos.blogspot.com/2011/06/bebesouro.html
O Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos da Villa Rica!!!!
Vem, vem, vem, vamo símbora,
vem, vem, vem, brincadeira tem hora!
Da minha janela que ficava pouca acima deste barraco-bar eu via o couro comer nas noites de sábados e domingos! A apresentação dos cantores menos famosos começava cedo por volta das 20:00 e na minha lembrança ficaram sómente 3;
Luizinho (?) um magricela, baixo e com ar ameaçador que era o guru dos garotos do Ninho das Cobras! Invariavelmente só cantava esta espécie de hino cujo refrão era:
No ninho das Cobras
tem coral e cascavel
quem passar por lá
tem que tirar o chapéu!
O 2º não me lembro como era mas sua música também tinha um refrão no mínimo curioso:
O cara comeu na maior empolgação
uma panela de carne
e a outra de arroz com feijão
eu não sabia que o cara comia tanto assim
comeu a comida toda / não deixou nada pra mim
a barriga do cara ficou que é um horror
e depois saiu gritando e cantando sempre assim:
Ai, aiai, aiai, aiai, ui, uiui, uiui, uiui!
O 3º era extremamente comunicativo, com uma forma de cantar única, expressiva e muito emotiva, parecia cantar seus dramas amorosos e não tinha quem não parasse para ouvi-lo!
Se apresentava como Jorge Bem (coloco com M para não confundir com o ja famoso, original!) e arrebentava com essa música:
Subindo a ladeira
Subindo a ladeira eu senti
a maior
desilusão
Subindo a ladeira eu senti
a maior
desilusão
abrindo a porta do meu barracão
não encontrei
a dona do meu coração!
Terezinha foi embora
e me deixou na solidão
Terezinha foi embora
e me deixou na solidão
veja
como é triste
eu sózinho nesta solidão!
Subindo a ladeira!!!
Coloquei os versos na forma da métrica vocal única que o destacava dos demais!!!
O culpado sou eu
Quero lhe pedir perdãopelo grande mal que lhe causei
eu estou arrependido
e porque dizer que não
da nossa separação
sei que fui o culpado
de magoar seu coração
mas
se entre nós tudo acabou
foi só porque
eu não lhe dei atenção!
Não posso deixar este registro sem falar na mais espetacular letra de enredo cujo único pedaço que me lembro, é:
Sublime mão celestial ajudou ao poeta
a escrever esta página de glória...Quebra-Quebra na Villa Rica!
Numa negra noite de 1975 por aí, o exército que naquela época combatia o tráfico, invadiu o nosso morro num sábado umas 23:00 com a quadra do Villa fervilhando de gente. Foi um corre-corre doido e a bateria pêga de surpresa não quis parar a batucada, entendendo que quem não bebe, não treme! O capetão se irritou com esta atitude e mandou quebrar todos os instrumentos! Dava pena de ver aquelas botas animais amassando os prateados e belos instrumentos! De minha janela eu tremia de ódio ante aquela selvageria desnecessária!
Mas o Villa era grande e em pouco tempo recuperou a bateria e o couro comeu nas noites de sábados e domingos para a alegria do povão!
Para quem vaiiiii
para quem vai, para quem ficaaaa
Eu vou ficaaaaar
no Unidos da Villa Rica!
http://rquadrinhos.blogspot.com/2011/07/papos-animados-no-anima-mundi.html
O SUPREMO EMBLEMA
"Para quem vai...
para quem vai, para quem fica
eu vou citar
UNIDOS DA VILA RICA" !
(autor ignorado / samba-enredo)
"Oh, Vila, / eu trago aqui / sua homenagem..." assim começa
um dos belos sambas que animavam as noites de sábado na quadra de terra
que ficava ao lado de nosso barraco, no Morro dos Cabritos.
Curiosamente, o samba era mais animado (e mais cheio) aos sábados, a
véspera de mais um dia de trabalho duro deixava o pessoal sem muita
disposição para alegrias.
Já para nós era impossível dormir... a Bateria de mais de
20 instrumentos se postava pelo "lado do Túnel Velho", próximo de um
valão e da única "birosca" (ou bodega) de toda a redondeza. Situada
ao lado do valão infecto -- jorrando água negra o ano inteiro -- com o
balcão de madeira preta que nunca vira água nem sabão, o "comércio" era
um nojo. Raramente eu comprava algo lá, preferia andar bem mais e subir
rua acima, para comprar num outro mercadinho, um pouco depois do famoso
"Ninho das Cobras".
Voltando ao Bloco, no fim da noite, lá pelas 3 "da matina"
a Bateria passeava pela quadra toda e vinha estacionar debaixo de nossa
janela, um rugido ensurdecedor fazendo vibrar o telhado de zinco,
plásticos e papelão. Nunca soube ao certo quem dirigia a
Bateria mas, num domingo de 1972 ou 73 de tarde, tive o prazer de tocar
um dos instrumentos. A garotada estava tendo aulas de percussão e, num
dos intervalos do treino, me meti entre êles e "zabumbei" um surdão
qualquer por 4 ou 5 minutos.
É uma emoção indescritível tocar um instrumento numa Escola
de Samba, qualquer uma. Se o ritmo mexe conosco apenas assistindo,
tê-lo "dentro de si" é a glória. Estranhamente, não
lembro de um só cantor ou compositor branco no BCUVR dos anos 70... mas
eram todos poetas de primeira, capazes de cantar "o supremo emblema da
nossa Nação" sem gaguejar nem errar a letra, "pobrema" muito comum hoje
em dia.
Minha maior frustração foi jamais ter tido coragem de me
apresentar -- como compositor, pelo menos -- ao Bloco "amarelo/azul
pavão... o Vila Rica querido do meu coração". Enquanto escritor tinha
eu imensa admiração por letras de samba (de enredo?) como o "Quanta
beleza / tem a Guanabara... / se eu pudesse / ter, para mim, / essa jóia
rara. / Leva com você, oh Vila Rica / essa minha inspiração... (etc)".
Outra obra magistral, da qual ignoro o Autor, é o belo samba:
"Tenho o coração empedernido
pelo muito que tenho sofrido,
não suporto sofrer tanto assim...
Deus, por favor, tenha pena de mim!
As minhas penas vou pagar
e a minha vida vou mudar.
Triste é viver sem amor,
meu castigo é tão grande,
é tamanha a minha dor"!
(BCUVR - autor ignorado)
GENIAL, não é mesmo?! Quem poderia recuperar essas jóias e,
quem sabe, até GRAVÁ-LAS? Mas aqueles 1.500 m2 de terra batida não
viviam só de música, não. Ao cair da noite a malandragem da época (entre
1968 até 75/76) se reunia sobre uma imensa pedra negra, bem debaixo de
nosso barraco, para "fumar um baseado" e contar um bocado de "estórias"
cabeludas. Duas ou 3 vezes por ano aparecia de madrugada "os home", a
temida Policia Civil. A turma descia a encosta íngreme aos saltos, na
escuridão, e os "meganhas" ficavam na quadra por um bom tempo, dando
tiros em direção aos edificios lá embaixo e rindo às gargalhadas.
Adiante,
o Bloco inteiro sairia do terreno de terra para a recém-criada Creche,
na parte de cima da Rua Euclides da Rocha, suponho que por volta de 1976
ou 77. Voltamos a ter sossego em casa, mas eu nunca mais assisti a um
ensaio do admirado Bloco, minha inspiração por muitos anos. A seguir,
trechos do que restou de sambas meus, nascidos a partir de minha
vivência ao lado do Bloco UNIDOS DA VILA RICA, na época com um L
só!
"NATO" AZ (escritor e poeta)
CASA POBRE EM VILA RICA
Neste belo dia 2 de dezembro se comemorou o DIA NACIONAL DO SAMBA e isso me fez lembrar de minhas "raízes" enquanto compositor, meu inicio na seara da Música. Criado no interior do Paraná (e de SC) apenas com a legítima música caipira, de violas e acordeons, saltei de uma hora para outra para o mais puro ou cru dos movimentos negros, o "samba de terreiro" -- adiante, com o título de "samba de quadra", embora a festa se desse ainda em solo de terra batida -- no velho Morro dos Cabritos, acima do Túnel Velho, em Copacabana, Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa naqueles anos 70 de Copa do Mundo e Ditadura Militar, festa e repressão andando lado a lado.
Morávamos num barraco bem ao lado da quadra do Bloco Carnavalesco Unidos da Vila Rica, na época O ÚNICO BLOCO -- me corrijam se eu estiver errado! - existente na Zona Sul, ou pelo menos em parte dela. Por volta de 1980 ou 81, pouco antes de eu sair definitivamente do Rio, o Vila Rica subiria para outro Grupo, do qual desceu no ano seguinte.
Aprendi a gostar de samba colado à parede do quarto-sala do barraco, a menos de 2 metros da bateria do Bloco, num local onde tinha imensa pedra negra, granito que presenciou festas e também muita patifaria, já que a malandragem se reunia toda madrugada "bem debaixo de nossa casa", que ficava trepada numa pedreira.
Infelizmente, nunca me senti parte do Morro e nem daquela vida de sacrifícios e privações, não me relacionava com praticamente ninguém -- embora nascido lá e tendo vivido naquele martírio por quase 15 anos -- e, como era tímido, nunca frequentei a quadra de samba, exceto uma noite qualquer, na escolha da melhor sambista do Bloco. Mas não perdia um segundo dos ensaios, "grudado na parede" do barraco e vendo tudo pelos buracos dos pregos outrora existentes. (OBS.: inicialmente, naquele local havia apenas um barracão que servia para as sessões de "macumba" de um jovem chamado de "Pai JORGINHO". Mais tarde, o sujeito foi alojado na encosta do morro e a área virou campo de futebol a semana inteira e quadra de samba aos sábados/domingos.)
O VILA RICA e seus magníficos compositores influenciaram minhas primeiras produções na área da Música e, adiante, me tornei fã de sambistas renomados -- Martinho da Vila, Paulinho da Viola e Clementina de Jesus, entre tantos outros e outras, Elza Soares principalmente -- sem esquecer os nomes e as composições dos principais sambistas (do Bloco) dos primeiros dias dos coloridos e roqueiros anos 70.
Entre os compositores mais importantes estavam Luis "Chimbirra" (não sei se era sobrenome ou apelido), o velho e respeitado "Jorge Ben e até o "tampinha" "Segunda-Feira" -- "sombra" do malandro mais temido da área, o 'Marocas" --que subia no palanquinho de metro e meio de largura para entoar exatos 6 versos:
"Numa alta madrugada
eu encontrei o meu amor...
o sereno estava caindo (pois é, pois é!)
e o sereno não me molhou.
E lá vinha o refrão simples e belo, repetido diversas vezes e levantando a multidão:
"É mais uma madrugada
que eu passei com meu amor!"
De "Jorge Ben", voz ímpar, sem igual na região, algo próximo do famoso Aniceto do Império, só me lembro do "Subindo a Ladeira", cujos primeiros versos estampei em meu texto sobre as agruras de se viver num Morro, o 'UM DIA EM LILLIPUT", postado no megasite cultural OVERMUNDO, que pode ser consultado pelo link:
www.overmundo.com.br/banco/um-dia-em-lilliput
Jamais mostrei meus "sambinhas" para quem quer que fosse e admirava o pai da Sandra -- minha bela vizinha, amiga de infância -- conhecido por "Pauzinho" que, com uma lata d'água sobre a perna, passava horas cantando seus sambas, acompanhado do amigo e vizinho, seu "Bené", batendo copo ou 2 colheres.
Infelizmente, recentemente a esperança me abandonou e cansado de sonhar em ver meus trabalhos sendo cantados (ou até gravados), toquei fogo em tudo. Viraram cinzas mais de 600 poemas (entre trovas, sonetos, cordel e poesia livre) e pelo menos umas CEM MÚSICAS, entre elas uns 30 sambas, boa parte em homenagem ao bloco Vila Rica, inclusive um samba-enredo sobre os vikings e a pedra da Gávea, cujo título era "A Cabeça do Imperador"!.
Sobrou na memória senil o que está abaixo, trechos de "sambas de terreiro", CURTINHOS como devem ser, já que ficam "na fila" para cantar até a alta madrugada uns 15 ou 20 compositores, nas grandes Escolas de Samba até mais do que isso. Aí vão:
Vamos cantar
para tod'as regiões
as mais lindas canções
que o povo quer ouvir
e nosso samba
que é todo harmonia,
alegria e fantasia,
vai o povo seduzir.
(refrão/BIS)
Vamos cantar,
ó moçada brasileira.
Vamos sambar,
juventude altaneira,
que o VILA RICA
vai tocar a noite inteira...
que o VILA RICA
vai sambar a noite inteira.
"NATO" AZ
********************************
(refrão/BIS)
Vem lua, eh, vai lua, ah...
nêgo no batuque
não para de batucar.
I
Nossa bateria
está botando "prá quebrar".
É samba, show e alegria,
o VILA não pode parar.
"NATO" AZ
(CONTINUA...
esqueci o resto da música)
**********************************
Surdo, cuíca e pandeiro
pela noite a batucar...
é o "samba de terreiro",
a chuva caindo devagar.
É o VILA RICA quem diz:
"nosso samba não pode parar"!
E eu me sinto feliz
em dele participar.
(refrão/BIS)
Samba, show e alegria
o VILA RICA tem...
mas ritmo e harmonia
é importante também !
"NATO" AZ
No texto citado acima, UM DIA EM LILLIPUT, comento como era dificil a subida do Morro, numa viela escura e cheia de mato e lixo, entre dois prédios próximos da entrada do Túnel Velho. Fechado esse "atalho', passaram-se vários anos até que uma alma bondosa cedesse a escadaria que dava acesso à seu casarão, "na boca do Túnel", facilitando (?!) a vida dos favelados, que escalavam uma perigosa escada de madeira, com uns 70 graus de inclinação, num permamente riso de acidentes, principalmente de mulheres com enormes trouxas de roupa na cabeça.
"NATO" AZNeste belo dia 2 de dezembro se comemorou o DIA NACIONAL DO SAMBA e isso me fez lembrar de minhas "raízes" enquanto compositor, meu inicio na seara da Música. Criado no interior do Paraná (e de SC) apenas com a legítima música caipira, de violas e acordeons, saltei de uma hora para outra para o mais puro ou cru dos movimentos negros, o "samba de terreiro" -- adiante, com o título de "samba de quadra", embora a festa se desse ainda em solo de terra batida -- no velho Morro dos Cabritos, acima do Túnel Velho, em Copacabana, Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa naqueles anos 70 de Copa do Mundo e Ditadura Militar, festa e repressão andando lado a lado.
Morávamos num barraco bem ao lado da quadra do Bloco Carnavalesco Unidos da Vila Rica, na época O ÚNICO BLOCO -- me corrijam se eu estiver errado! - existente na Zona Sul, ou pelo menos em parte dela. Por volta de 1980 ou 81, pouco antes de eu sair definitivamente do Rio, o Vila Rica subiria para outro Grupo, do qual desceu no ano seguinte.
Aprendi a gostar de samba colado à parede do quarto-sala do barraco, a menos de 2 metros da bateria do Bloco, num local onde tinha imensa pedra negra, granito que presenciou festas e também muita patifaria, já que a malandragem se reunia toda madrugada "bem debaixo de nossa casa", que ficava trepada numa pedreira.
Infelizmente, nunca me senti parte do Morro e nem daquela vida de sacrifícios e privações, não me relacionava com praticamente ninguém -- embora nascido lá e tendo vivido naquele martírio por quase 15 anos -- e, como era tímido, nunca frequentei a quadra de samba, exceto uma noite qualquer, na escolha da melhor sambista do Bloco. Mas não perdia um segundo dos ensaios, "grudado na parede" do barraco e vendo tudo pelos buracos dos pregos outrora existentes. (OBS.: inicialmente, naquele local havia apenas um barracão que servia para as sessões de "macumba" de um jovem chamado de "Pai JORGINHO". Mais tarde, o sujeito foi alojado na encosta do morro e a área virou campo de futebol a semana inteira e quadra de samba aos sábados/domingos.)
O VILA RICA e seus magníficos compositores influenciaram minhas primeiras produções na área da Música e, adiante, me tornei fã de sambistas renomados -- Martinho da Vila, Paulinho da Viola e Clementina de Jesus, entre tantos outros e outras, Elza Soares principalmente -- sem esquecer os nomes e as composições dos principais sambistas (do Bloco) dos primeiros dias dos coloridos e roqueiros anos 70.
Entre os compositores mais importantes estavam Luis "Chimbirra" (não sei se era sobrenome ou apelido), o velho e respeitado "Jorge Ben e até o "tampinha" "Segunda-Feira" -- "sombra" do malandro mais temido da área, o 'Marocas" --que subia no palanquinho de metro e meio de largura para entoar exatos 6 versos:
"Numa alta madrugada
eu encontrei o meu amor...
o sereno estava caindo (pois é, pois é!)
e o sereno não me molhou.
E lá vinha o refrão simples e belo, repetido diversas vezes e levantando a multidão:
"É mais uma madrugada
que eu passei com meu amor!"
De "Jorge Ben", voz ímpar, sem igual na região, algo próximo do famoso Aniceto do Império, só me lembro do "Subindo a Ladeira", cujos primeiros versos estampei em meu texto sobre as agruras de se viver num Morro, o 'UM DIA EM LILLIPUT", postado no megasite cultural OVERMUNDO, que pode ser consultado pelo link:
www.overmundo.com.br/banco/um-dia-em-lilliput
Jamais mostrei meus "sambinhas" para quem quer que fosse e admirava o pai da Sandra -- minha bela vizinha, amiga de infância -- conhecido por "Pauzinho" que, com uma lata d'água sobre a perna, passava horas cantando seus sambas, acompanhado do amigo e vizinho, seu "Bené", batendo copo ou 2 colheres.
Infelizmente, recentemente a esperança me abandonou e cansado de sonhar em ver meus trabalhos sendo cantados (ou até gravados), toquei fogo em tudo. Viraram cinzas mais de 600 poemas (entre trovas, sonetos, cordel e poesia livre) e pelo menos umas CEM MÚSICAS, entre elas uns 30 sambas, boa parte em homenagem ao bloco Vila Rica, inclusive um samba-enredo sobre os vikings e a pedra da Gávea, cujo título era "A Cabeça do Imperador"!.
Sobrou na memória senil o que está abaixo, trechos de "sambas de terreiro", CURTINHOS como devem ser, já que ficam "na fila" para cantar até a alta madrugada uns 15 ou 20 compositores, nas grandes Escolas de Samba até mais do que isso. Aí vão:
Vamos cantar
para tod'as regiões
as mais lindas canções
que o povo quer ouvir
e nosso samba
que é todo harmonia,
alegria e fantasia,
vai o povo seduzir.
(refrão/BIS)
Vamos cantar,
ó moçada brasileira.
Vamos sambar,
juventude altaneira,
que o VILA RICA
vai tocar a noite inteira...
que o VILA RICA
vai sambar a noite inteira.
"NATO" AZ
********************************
(refrão/BIS)
Vem lua, eh, vai lua, ah...
nêgo no batuque
não para de batucar.
I
Nossa bateria
está botando "prá quebrar".
É samba, show e alegria,
o VILA não pode parar.
"NATO" AZ
(CONTINUA...
esqueci o resto da música)
**********************************
Surdo, cuíca e pandeiro
pela noite a batucar...
é o "samba de terreiro",
a chuva caindo devagar.
É o VILA RICA quem diz:
"nosso samba não pode parar"!
E eu me sinto feliz
em dele participar.
(refrão/BIS)
Samba, show e alegria
o VILA RICA tem...
mas ritmo e harmonia
é importante também !
"NATO" AZ
No texto citado acima, UM DIA EM LILLIPUT, comento como era dificil a subida do Morro, numa viela escura e cheia de mato e lixo, entre dois prédios próximos da entrada do Túnel Velho. Fechado esse "atalho', passaram-se vários anos até que uma alma bondosa cedesse a escadaria que dava acesso à seu casarão, "na boca do Túnel", facilitando (?!) a vida dos favelados, que escalavam uma perigosa escada de madeira, com uns 70 graus de inclinação, num permamente riso de acidentes, principalmente de mulheres com enormes trouxas de roupa na cabeça.
Considero esta música cantada por Bezerra da Silva como o Hino dos sambistas dos Morros do Rio de Janeiro!!!
Quem viveu nos Morros antes do Governo Brizola sabe do que eu/Ele está falando!
Se Não Fosse o Samba
E se não fosse o sambaquem sabe hoje em dia eu seria do bicho?
E se não fosse o samba
quem sabe hoje em dia eu seria do bicho?
Não deixou a elite me fazer marginal
E também em seguida me jogar no lixo
A minha babilaque era um lápis e papel no bolso da jaqueta,
Uma touca de meia na minha cabeça,
Uma fita cassete gravada na mão
E toda vez que descia o meu morro do galo
Eu tomava uma dura
Os homens voavam na minha cintura
Pensando encontrar aquele três oitão
Mas como não achavam
Ficavam mordidos não dispensavam,
Abriam a caçapa e lá me jogavam
Mais uma vez na tranca dura pra averiguação
Batiam meu boletim
O nada consta dizia: ele é um bom cidadão
O cana-dura ficava muito injuriado
Porque era obrigado a me tirar da prisão
Batiam meu boletim
O nada consta dizia: ele é um bom cidadão
O cana-dura ficava muito injuriado
Porque era obrigado a me tirar da prisão
Mas hoje em dia eles passam,
Me vêem e me abraçam me chamam de amigo
Os que são compositores gravam comigo
E até me oferecem total proteção
Humildimente agradeço
E digo pra eles: estou muito seguro
Poque sou bom malandro
E não deixo furo
E sou considerado em qualquer jurisdição
Humildimente agradeço
E digo pra eles: estou muito seguro
Poque sou bom malandro
E não deixo furo
E sou considerado em qualquer jurisdição
Ùltimo pedacinho de samba que me lembro:
Quanta beleza, quanta ternura
tem na Guanabara
se eu pudesse ter para mim
esta jóia rara
leva com voçe ô Villa Rica
essa minha inspiração....